O semestre da atual legislatura foi fraco em termos de projetos dos parlamentares estaduais. Até mesmo pela significativa renovação dos deputados [se aproximou de 60%], o que chamou atenção nos primeiros meses de mandato foi a atuação de antigos deputados, que ao lado de um estreante na política partidária do Acre, fizeram a diferença no jogo de disputa de espaço na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac).
Nesse jogo político, os verdadeiros “ASES” foram o Major Rocha (PSDB), o debutante que está dando o que falar; O líder do governo, Moisés Diniz (PC do B), que demonstrou grande habilidade nas articulações políticas, mesmo quando o cenário foi desfavorável; Gilberto Diniz (PT do B), que após o primeiro mandato ganhou experiência e faz a diferença no bloco de oposição, e a “grande dama” Antonia Sales (PMDB), a deputada mais votada do estado que mantém uma linha de oposição firme, equilibrada e focada nas questões sociais.
O PRIMEIRO SEMESTRE NA ALEAC
Enganam-se os que pensam que na Assembléia Legislativa do Acre é uma casa que serve apenas para pendurar os cabides de emprego. É de lá que saem as principais decisões que vão afetar positivamente ou negativamente a vida dos acrianos, como foi o embate em torno da provação da Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO), que de certa forma decretou um ponto final na crise entre executivo e legislativo, com o governador Tião Viana e o presidente do Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC), Adair longuini, fumando o cachimbo da paz.
Nesta legislatura, por exemplo, a maioria dos projetos aprovados foram os do poder executivo. Algumas propostas polêmicas foram engavetadas, como foi o projeto de Astério Moreira (PRP), que mais uma vez mexia com a pensão de ex-governadores. As grandes votações ficaram para os últimos dias de trabalhos legislativos antes do recesso, quando os parlamentares em um só dia, foram votados 20 projetos. Alguns de pouca valia, outros de sua importância, como foi o reajuste dos servidores estaduais.
Tirando as sessões solenes, que foram transferidas para os dias de segundas e sexta-feira, através de projeto e voto dos próprios parlamentares e os títulos de honraria, considerados por muitos como uma mera peça decorativa, os deputado pouco produziram em matérias de interesse coletivo, ficando guardada todas as expectativas para o segundo semestre de 2011, quando o processo político com vistas as eleições de 2012, devem esquentar os bastidores do legislativo estadual.
SANTIAGO, O CURINGA - Num baralho normal são 54 cartas, contando com dois curingas, mas no caso especifico do jogo do parlamento acreano, temos apenas um coringa, representado pelo atual presidente da Assembleia Legislativa, Elson Santiago (PP), que muitos apostavam numa fraca administração, surpreendendo mostrando que seus nove mandatos não são por acaso, e que serve para fechar qualquer tipo de jogada, compondo os naipes com os ases, rei e dama.
Em todos os seus mandatos, Elson Santiago, que também já foi secretário de Estado, nunca foi de fazer estardalhaços, mas sempre deu conta do recado, nas atuações discretas, mas eficientes do recordista de mandatos da Aleac. O novo presidente mostrou desenvoltura nas negociações conduzindo os projetos e votações com serenidade, mostrando ao governo que é o homem certo para presidir o legislativo. Santiago deu continuidade ainda, ao projeto de integração deixado por Edvaldo Magalhães, dando os últimos retoques no intercâmbio universitário e resolvendo problemas de acomodação dos estudantes peruanos no Estado.
Mas nem tudo são flores na atual conjuntura. Quem acompanha o desempenho dos deputados apenas pela imprensa, não tem noção da tensão que existe nos bastidores, onde acontecem as reuniões intermináveis e de pouco consenso. Eles gritam, cochicham ao pé do ouvido, compõem e se acusam. Mas tudo dentro de um limite, sem deixar vazar para a imprensa a poeira suja que na maioria das vezes jogam para debaixo do tapete, mostrando o corporativismo típico dos poderes que comandam o Estado.
MAJOR ROCHA (PSDB) - A avaliação das principais cartas do baralho do legislativo pode começar pelo estreante Major Rocha, o deputado tucano, que no início da legislatura foi comparado ao ex-deputado Luiz Calixto (PSL). Bem articulado, o jovem tucano mostrou que sua identidade nada tem haver com o tipo de oposição praticada por Calixto. Rocha vive a política praticamente 24 horas por dia, participando de movimentos sindicais e percorrendo os quatro cantos do Estado, fiscalizando e levando ao parlamento, os problemas que julgam ser de ingerência do poder executivo e desvio de finalidades em recursos aplicados pelos gestores públicos.
O destaque que Rocha vem alcançando no cenário político do estado, já começou a incomodar algumas lideranças partidárias, que vêem no parlamentar um ameaça potencial para alguns projetos políticos que buscam o poder. O militar reformado será o comandante das eleições municipais em Rio Branco, pelo PSDB, no ano de 2012, revelando que apesar de “verde” na política partidária, tem tudo para emplacar como uma figura de destaque no futuro político do Acre. É carta certa nas disputas de 2012 e 2014.
MOISÉS DINIZ (PC do B) - Moisés Diniz, o líder do governo, um papel de certa forma indigesto para um parlamentar que almeja um futuro político, já que tem que defender o governo em todos os momentos. Mesmo com alguns percalços em sua trajetória na Aleac, o deputado comunista conseguiu apaziguar os ânimos em algumas situações e, com habilidade inigualável soube reverter à situação desgastante nas negociações com os funcionários públicos estaduais, no episódio que envolveu o assessor especial, Francisco Nepomuceno (o Carioca), que em um bate-boca com os sindicalistas disse que Diniz não era autorizado negociar nada pelo governo.
Na ocasião, o líder do governo pediu que aos sindicatos voltassem à mesa de negociação: “suspendam a greve e aceitem os 20% de reajuste”. E no final fez o que mais gosta: poesia. “Estes momentos nos ajudam a nos tornar mais gentes e ensina as novas gerações, que o mandato é passageiro e o que vale é o compromisso do político com a sociedade acreana. A Aleac é uma casa de tolerância política e é por isso que terá esta votação”. Moisés Diniz fechou seu discurso sem ser vaiado pelos servidores, revertendo à calça curta passado pelo homem do “não”, Carioca Nepomuceno, o assessor mais temido e prestigiado das administrações petistas.
GILBERTO DINIZ (PT do B) - O deputado que chegou a ser cogitado como carta fora do baralho, deu a volta por cima e se credenciou como uma das lideranças do bloco de oposição. Com questionamentos picantes e embasados nos investimentos no setor produtivo do Acre, que atualmente patina nas tentativas de o governo tentar tornar o Estado auto-sustentável, o parlamentar se credencia como um dos “ases” do primeiro semestre da atual legislatura, se tornando uma das cartas mais importantes entre os políticos que se posicionam contrários a administração do governador Tião Viana.
De posicionamento forte, Gilberto marcou posição oposta aos principais projetos do poder executivo, votando contra a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e ao empréstimo de R$ 684 milhões contraídos pela administração de Tião Viana, junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES).
ANTONIA SALES (PMDB) - A dama de copas do parlamento. Assim pode ser apresentada Antonia Sales, a deputada mais votada do Acre, que entra no carteado da Aleac, como a liderança mais expressiva do Vale do Juruá. Dona de um discurso popular e focando as questões sociais, Sales foi à deputada que revelou a opinião pública a questão da falta de mamógrafos no Estado, mostrando o sofrimento das mulheres das localidades remotas do interior, quando precisam realizar exames complexos. Sua denuncia ecoou e até o jornal Nacional, da Rede Globo revelou para o Brasil a real situação da saúde do Acre.
Sem se apegar aos jogos armados dentro do parlamento, Antonia Sales, não vota de acordo com a vontade popular. Acusada de traição na votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), a deputada se defendeu mostrando as necessidades de abrangência do poder judiciário no interior do Estado, onde segundo Sales, não existem defensores públicos e juízes suficientes para atender a demanda.
TCHÊ, O REI DA DISPUTA - Existem ainda, as surpresas políticas, dentro desse jogo, como é o caso do rei do baralho do legislativo. Luis Tchê (PDT), que de coadjuvante passou a ser uma das atrações do parlamento, foi eleito presidente da União Nacional dos Legislativos Estaduais (Unale) e integra a Mesa Diretora da Casa. De posse de um discursos afiado, Tchê tem grandes ambições, inclusive em devolver as prerrogativas ao legislativo estadual que poderá ter maior poder de decisão, inclusive, podendo emancipar novos municípios.
Matéria:Ray Melo, da redação de ac24horas
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