domingo, 24 de julho de 2011

A floresta sangra no Acre

Imagem:360graus.terra.com.br
Há dias que são completamente diferentes dos demais. Ontem, dia 23 de julho de 2011, foi um deles. Merece registro, por exemplo, o fato de, pela primeira vez, nos meus quase 48 anos de vida, consegui entrar em um avião de bermuda e sandália de dedo. Também foi a primeira vez que cheguei a Rio Branco e fui recebido pela minha mãe no aeroporto. Estavam, ainda, meu primo Fidelis e minha Tia Rosa. Tomei o volante do carro da minha irmã Giseuda, pois dirigir é algo relaxante para mim, e, por volta de 13h40, pegamos o rumo de Sena Madureira. Mamãe e Tia Rosa tinha feito cirurgia em um dos olhos no dia 20 e fui logo alertado de que não deveria “correr muito”. Normalmente faço o percurso de 132 do Aeroporto de Rio Branco até Sena Madureira em 1h. Calculei que a 80km ou 100km nos melhores trechos demoraríamos algo em torno de 1h40 a 2h de viagem. Nem bem passamos por Bujari, o primeiro caminhão de madeira cruza nosso caminho. Foram inúmeros deles que cruzam o caminho, com excessiva carga de enormes toras de madeira. Revolta-me o discurso oficial de preservação da Floresta com a exploração desenfreada de madeira. Comentei com o Fidelis sobre essa minha revolta e ele revela que a devastação, inclusive proximamente a Sena Madureira, é intensa. A destruição é tamanha e a falta de fiscalização maior ainda que os madeireiros, além de destruírem a floresta, destroem outro patrimônio de todos: a estrada. Como os caminhões transportam toras em excesso, afundam o leito da estrada e destroem o asfalto ao longo do trecho da BR 364 que liga Rio Branco a Sena Madureira. Eis que o carro puxa para um lado, um pouco antes de chegar “ao 72”, metade da viagem. Pneu traseiro esquerdo furado. Uma operação que demoraria no máximo 10min, a troca do pneu, tomou mais de meia hora, “pois o desgraçado teimava em não sair”. A crosta de ferrugem do pneu e da bacia da roda fez um casamento natural quase indissolúvel. Eu, e principalmente o Fidelis, quase fomos vencidos. Enfim a roda cedeu e prosseguimos viagem, não sem antes parar no 72, pois o Fidelis era suor até na alma. Aproveitei para comer a saltenha (uma espécie de pastel recheado com frango desfiado), como fazia na infância sempre que viajava e parávamos no 72, algo raro, por sinal, dadas as possibilidades financeiras (ou a falta delas) da família à época da minha infância e adolescência. Seguimos viagem mais devagar ainda pois o carro estava com menor estabilidade e sem nenhum espete. Mamãe preocupada (como sempre), com medo de viagem. Perguntou se não tinha perigo. E eu:”o único perigo é furar o outro pneu”. Ato contínuo o carro puxa, agora para o outro lado. Completei: ”e acabou de furar o outro”. Eu e Fidelis soltamos uma senhora gargalhada. Estávamos no 50, sem sinal de celular, sem estepe, sob um sol de torrar ovo no asfalto. Passa um táxi: ia direito para Manoel Urbano. Em seguida, Fidelis sinaliza e para um Saveiro da firma JN. O condutor avisa que se o pneu encaixar ele empresta. Alegria incontida de todos nós: os quatro buracos da roda encaixaram certinho. Chegamos em Sena Madureira por volta de 16h30. Além da inusitada viagem, não me saem da cabeça as imagens dos caminhões lotados de madeira: sinto que a floresta sangra e providências urgentes precisam ser tomadas para evitar o enriquecimento de alguns a custa dessa exploração desenfreada e do prejuízo coletiva de ser perder, mais uma vez, a mais importante ligação de Sena Madureira com a capital do Estado.
Post de Gilson Monteiro/blogdogilsonmonteiro.blogspot.com

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