Na segunda parte da série: Florestania à venda, o ac24horas mostra como funciona o esquema que envolve milhões de reais e que é aprovado apenas em acordos firmados entre donos de madeireiras e associações de assentados em troca de uma “mesada” que chega a R$ 810,00 por mês para cada família que depende da floresta para sobreviver. Produtores reclamam do não cumprimento das clausulas contratuais. Alguns lutam ainda hoje para receber pela exploração em suas áreas. A reportagem chegou ao Projeto de Assentamento do Limoeiro, no Antimary, no município do Bujari. Onde deveria funcionar uma serraria comunitária, existe apenas o vazio e o sonho de uma política ambiental correta.
Os acordos entre madeireiros e associações de assentados, com o conhecimento e aprovação da Secretaria Executiva de Florestas e do Governo do Acre, configuram uma parceria onde quase todo mundo ganha. Quase, porque o Estado tem sua política ambiental fortalecida; na outra ponta, os madeireiros ganham com o lucro da venda da madeira retirada das áreas de assentamentos e de florestas públicas. E para os produtores, sobra o sonho de um dia serem donos das terras. Nesse jogo, a Floresta perde sua diversidade de flora e fauna.
Francisco Soares de Souza, um dos produtores mais antigos do Projeto de Assentamento do Limoeiro é exemplo vivo dessa relação perigosa. Ele contou para a nossa reportagem que viu a implantação de todo o processo de regularização das terras do Manejo, assim como o sonho de vencer na vida passando de década para década.
- Depois que retiraram toda a madeira, eles abandonaram isso aqui. Não cumpriram com as promessas que fizeram. Os prédios foram esquecidos dentro das matas, falta saúde, escola de qualidade para os nossos filhos – contou seu Francisco.
A história de Francisco é vista pelo caminho de chegada até a sua casa. Placas do Manejo estão jogadas ao chão. Os ramais que eram cartões postais de quem visitava a região, estão completamente abandonados, pontes quebradas e o mais grave, falta aos produtores à esperança de dias melhores.
A serraria instalada no início do Manejo e que serviria para agregar valor à madeira explorada, com a promessa de empregar mão de obra de produtores da região, sumiu do mapa. No lugar da Serra Pica Pau, existe apenas o vão, o vazio.
- Levaram antes das eleições que era para ninguém descobrir o fracasso do projeto. Prometeram repassar o valor da serra na compra de um barco com motor e animais que nunca chegaram por aqui. Até hoje não sabemos o rumo da história – revelou Agenor Nascimento.
Andando pelas regiões que foram desmatadas dentro do projeto Antimary, a reportagem apurou que mesmo sendo explorada de forma legal, a retirada de madeira vem abrindo grande fendas dentro da floresta. Em uma das visitas feitas pela deputada Marileide Serafim [PMN], que vem investigando o uso sustentável da madeira na Amazônia, ela afirmou que “essa maneira sociavelmente aceitável, não deixa de ser executada de forma predatória”
O produtor Francisco Ferreira dos Santos briga para receber parte da madeira que foi explorada em suas terras. Ele afirma que junto com sua sogra, foi enganado pelos donos de madeireiras. Outra denúncia grave feita pelo produtor, diz respeito ao cemitério de arvores abandonadas no meio da mata.
- Agora eles querem dividir os prejuízos. O que temos haver com a ingerência deles? Vou entrar na Justiça para tentar receber pela madeira que foi explorada dentro das minhas terras – acrescentou Francisco.
Vendo o exemplo e a realidade do projeto de assentamento, o senhor Nonato Barreto, que mora há 23 anos no local, não quer mexer na área de floresta pertencente à família. Barreto vive da produção de castanha e do açaí. Ele conta que a Secretaria Executiva de Florestas está lhe obrigando a assinar um contrato de Manejo.
- Nós se quisermos derrubar para produzir somos impedidos pelo Imac e multados pelo Ibama, agora o governo quando quer desmatar pode passar por cima de todos, inclusive de nossa vontade! – exclamou o produtor.
Nos últimos três anos, segundo pesquisas do greenpeace, o desmatamento anual da Amazônia caiu de mais de 27 mil quilômetros quadrados para algo estimado em cerca de 10 mil quilômetros quadrados. Nesse período o governo federal cancelou uma grande quantidade de autorizações de exploração de madeira de empresas que desrespeitavam a legislação e aumentou a fiscalização sobre o setor, ao mesmo tempo em que aprovou uma nova legislação de concessões florestais, ainda em fase de implementação, para ordenar o acesso de madeireiras às riquezas da floresta em terras públicas.
Para o deputado Major Rocha, que também acompanha e fiscaliza o projeto, "nesse modelo fica claro que a exploração legalizada virou um produto extremamente escasso e que poucos têm acesso. Os processos que legalizam esse uso merecem uma luz jurídica mais profunda. Algo está muito errado nessa história. O que deveria gerar riquezas, muda a vida apenas de quem já é rico, deixando pobre quem depende da floresta. Um modelo insustentável que precisa ser urgentemente revisto" disse o deputado Major Rocha [PSDB].
O OUTRO LADO:
O secretário de Florestas, João Paulo, reconheceu que o setor social é um dos grandes desafios do modelo. Ele disse que a Serra Pica Pau retirada do projeto de assentamento Limoeiro está no Viveiro da Floresta, mas não entrou em detalhes sobre acordos firmados com os produtores. Paulo atribui a revoltas localizadas, os tumultos feitos pelos produtores.
- É extremamente difícil lhe dar com gente. Esse é o grande desafio, o de gerenciar o homem nesse modelo de vida sustentável, dentro da floresta. Mas vamos a cada dia aperfeiçoando essa relação. A certeza é de que dá para viver da floresta - disse o secretário.
Jairo Carioca /redação de ac24horas
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