domingo, 25 de novembro de 2012

Pastor não manda em fieis


Os chamados projetos políticos dos líderes das principais igrejas do Acre falharam e a bancada evangélica da próxima legislatura, na Câmara de Vereadores de Rio Branco, terá apenas um representante, reconhecidamente, evangélico e eleito através de um projeto político religioso: o Pastor Manuel Marcos (PRB), da Igreja Universal do Reino de Deus, do Bispo Edir Macedo.
A bancada evangélica da atual legislatura, que termina no final do ano, conta com três vereadores: Cabide (PTC) e Luiz Anute (PPS), membros da Igreja Assembleia de Deus, e Sargento Vieira (PPS), Pastor da Igreja da Restauração. Cabide e Vieira desistiram da vida pública e Anute não conseguiu se reeleger.
A não eleição dos candidatos apoiados pelas principais lideranças evangélicas além de enfraquecer o segmento no âmbito da política municipal coloca em xeque a influência que esses líderes têm sobre suas ovelhas.
O Presidente da Igreja Assembleia de Deus, Pastor Luiz Gonzaga, por exemplo, não conseguiu convencer os quase 18 mil membros da denominação a votar em seu filho Marcos Lima e no Pastor Raimundo Bezerra.

Marcos, que foi candidato pelo PSDC, obteve 1.944 votos. Pastor Bezerra, do PSB, 1.225.
Também da Assembleia de Deus, o candidato Raimundo Neném (PSD), apoiado pelo projeto político liderado pelo Pastor Francelino, do segmento no 2º Distrito, saiu das eleições com 1.295. 
A Igreja Batista do Bosque, presidida pelo Pastor Agostinho, não lançou nenhum projeto institucional, mas tinha membros candidatos.
Ismael Muniz (PT), com 1.442 votos e Junior Boca Cheia 1.693, foram dos membros os mais bem votados.
O Pastor e deputado Denilson Segóvia, Superintendente da Igreja Quadrangular, lançou o seu assessor e superintendente adjunto da Igreja como candidato, o Pastor Francivaldo Barros, mas não obteve êxito.
O pastor que foi candidato pelo PSD, obteve uma pífia votação de 919 votos, para uma igreja que possui mais de 15 mil membros.
Outra grande igreja que naufragou com seu projeto político foi a Renovada.
Com os apoios da Apóstola Dayse Costa, líder da denominação, do deputado Astério Moreira e referendado pela memória do Apóstolo Arão, o candidato Nelson da Vitória (PRP), teve 1.860 votos e não se elegeu apesar da boa votação.
Na Igreja Filadélfia, a candidata do PV, Maju França, com o apoio do Apóstolo Edgar, obteve 767 votos e foi outra apoiada por evangélicos que não conseguiu se eleger.
Os pífios números revelam que a influencia dos renomados líderes diante de suas ovelhas fica no limite do espiritual e não se materializa em votos.
Cada líder tem a sua explicação para o fracasso de votos. Para o Pastor e deputado Jamyl Asfury – FOTO -, da Igreja Batista do Bosque, as razões são muitas. 

“Isso depende de cada denominação. Houve uma pulverização. Várias pessoas foram candidatas, o que é permitido pela democracia, mas essa divisão de votos  acabou atrapalhando, como foi o caso da Assembleia de Deus. O que falta é mais conscientização. Acho que tem que ter mais democracia. Os líderes tem para com essa coisa de colocar porque é dá família ou que é quem eu quero. Tem colocar quem tem mais competência ou liderança real”, diz o parlamentar, para alertar que quando isso for colocado em prática “as igrejas voltarão a ter o seu lugar mais robusto”.
Lugar na política que de fato está ameaçado. A Assembleia de Deus que sozinha teve dois representantes na Câmara: Pastor Jonas, que foi Presidente da Casa, entre 2004 e 2006 e Jessé (falecido em agosto de 2010) que também presidiu a Câmara, de 2008 a 2010, está há dois anos sem vereador.
A Igreja tem como único representante político, o deputado Helder Paiva (PEN), vice-presidente da Casa.
Para o sociólogo Nilson Euclides, bandeira religiosa não significa eleição garantida.
“Quando o candidato é fraco é fraco. O candidato precisa ter além de uma vinculação religiosa, que é importante, ele precisa ter lastro social, uma liderança na sua comunidade, ele precisa de ter um partido que lhe dê sustentação… o fato de você vincular o seu nome a uma comunidade religiosa, em um partido pequeno, sem propostas, sem projeção, não vai chegar a lugar nenhum. Foi o que aconteceu”, avalia o sociólogo.
No caso do pastor Manuel Marcos, que obteve 1.863 votos, único eleito através de um projeto político de igreja evangélica, contou não só a própria organização, mas a chapa de partidos formada pelo partido dele, o PRB, o PV e o PTB. Ele foi o único eleito nessa coligação.
Diferente da Assembleia Legislativa, que conta com nove deputados evangélicos, com um poder significativo de negociação com o Executivo, na Câmara Municipal de Rio Branco, Pastor Manuel Marcus terá pela frente a missão de representar um numeroso segmento religioso e refutar quando exigir temas como a legalização do aborto e o casamento homossexual, recorrentes nos debates das casas legislativas Brasil afora.
Matéria:Luciano Tavares/ac24horas.com

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