Reagimos à proliferação de crimes de
forma individualista: reforçamos nossa segurança pessoal, compramos alarmes,
câmeras e aparelhos de última geração para vigiar nossos carros e casas.
Mudamos hábitos para tentar escapar da mira dos bandidos. Evitamos tocar no
assunto. Silenciamos talvez por apostar na tola superstição de que abordar o
tema possa atrair para nós as tragédias das páginas policiais.
Dizemos a nós mesmos que
o flagelo é de todo o Brasil. Tentamos fechar os olhos para a realidade de que
a violência aqui é desproporcional à dimensão de nosso Município e de nossa
população. Culpamos governos anteriores por terem feito migrar para cá
comunidades que provavelmente nunca serão absorvidas pelo mercado de trabalho
local, mas não nos perguntamos quais políticas públicas são concebidas hoje
para enfrentar a condição de “ilha” cercada de desemprego e traficantes de
drogas a que nossa cidade foi reduzida.
À frente do computador,
não suportando a solitária perplexidade que me produzem as manchetes sobre a
violência em Sena Madureira e adjacências, sucumbo à acolhedora pergunta, tão
conhecida pelos usuários de redes sociais, bem como à expressão “compartilhar”,
frequente no universo virtual e que convida ao desabafo: “No que você está
pensando?”.
Como todo mundo, preferia
não falar nisso, Facebook. Mas já que você perguntou... Eu estou pensando
há dias que não me lembro de ter sentido antes o perigo tão próximo de mim em
Sena Madureira. Estou pensando, Facebook, que não tenho na memória registro dessa
estranha associação violência-apatia. Desta vez, o marginal foi tão ousado que entrou
em minha casa abriu a minha geladeira e levou quase tudo. Pensávamos estar a
salvo em nossa casa. Mas foi um pensamento frustrado.
Eu estou pensando,
Facebook, que em Sena Madureira não sinto a presença de uma força tarefa. Há um
verdadeiro eclipse da autoridade estatal. Era de se esperar que o governo
colocasse viaturas policiais nas ruas, mostrasse a face na TV para se
solidarizar com as famílias das vítimas, apresentasse propostas para reduzir
índices de criminalidade e tentasse acalmar a opinião pública. Quanto a nós,
cidadãos, assistimos calados, sem surpresa ou comoção, à escalada da violência.
Não há mobilizações, passeatas ou debates. Os infratores, estes parecem sentir-se
tacitamente autorizados a atacar as pessoas, em qualquer hora do dia ou da
noite.
Eu estou pensando,
Facebook, que estamos caminhando a passos rápidos e firmes para um cenário de
faroeste em plena Princesinha do Iaco.
Estou pensando na Sena Madureira, no Brasil
que nós, Estado e Sociedade, estamos construindo para nossos filhos num futuro
tão tenebroso quanto próximo, prometer lutar contra a criminalidade crescente
ou para apresentar soluções para melhorar a segurança pública, todos os dias se
ouve falar.O que devo fazer? Facebook?
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